Com ganhos de produtividade nas fazendas, a produção agrícola no Brasil enfrenta problemas da porteira para fora. Segundo o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins da Silva Júnior, a alta carga tributária e a falta de estrutura para o escoamento da produção, com estradas ruins e portos obsoletos e caros, são os principais entraves para o agronegócio no país.
Pelos cálculos da CNA, os custos logísticos fora da fazenda equivalem, em média, a quatro vezes os custos argentinos e norte-americanos, por causa da falta de infraestrutura. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve colher 208,8 milhões de toneladas de alimentos na safra agrícola 2014/2015, com expansão de 7,9% em relação à safra anterior.
“Somos o país que mais tem crescido na produção de alimentos”, diz o presidente da CNA, “À medida que as fronteiras agrícolas se interiorizam e se distanciam dos portos do Sul e do Sudeste, os custos de logística para escoamento da produção aumentam.”
Consultor da CNA e membro da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luiz Fayet explica que a falta de infraestrutura impede que a produção escoe por rotas mais racionais. Em vez de serem exportada pelos portos do Norte e do Nordeste, a produção viaja mais de 2 mil quilômetros para os portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), com custos crescentes.
Segundo Fayet, as condições naturais do país – com muitas terras cultiváveis e clima que colabora com variadas culturas – favorecem a produção nacional, suficientemente grande para atender à boa parte das demandas mundiais por alimentos. De importador de alimentos há 50 anos, o Brasil passou para o segundo maior produtor e primeiro exportado. “Se a evolução dos trasportes não atrapalhar, o Brasil pode ultrapassar o maior produtor, os Estados Unidos, até 2020”, diz.
O consultor da CNA adverte, porém, que grande parte do potencial de produção será desperdiçada se o país não investir em infraestrutura, principalmente nos portos. Segundo Fayet, com melhor racionalização no escoamento da produção – inclusive com uso de hidrovias –, é possível baratear os custos de logística em torno de US$ 60 a US$ 80 por tonelada de soja ou de milho colhidos em áreas de fronteira agrícola, dando mais competitividade a nossos produtos no mercado externo.
Segundo o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rubens Rodrigues dos Santos, parte da produção de soja do Oeste de Mato Grosso está saindo pelo porto de Itacoatiara (AM) e a produção do Sul do Maranhão está sendo exportada pelo porto de São Luís. Ele diz ser possível que, em dez anos, a maior parte da produção agrícola do Centro-Oeste seja escoada pelos portos do Norte e Nordeste, com barateamento médio de US$ 30 por tonelada.
Há dois meses, o governo federal lançou um plano de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, que prevê investimentos de R$ 198,4 bilhões para melhorar a infraestrutura de transportes no país – R$ 69,25 bilhões até 2018 e mais R$ 129,2 bilhões até o fim das concessões, de cerca de 30 anos.
Do total, R$ 37,4 bilhões se referem a investimentos privados no setor portuário, de acordo com o ministro-chefe da Secretaria Nacional de Portos, Edinho Araújo. “O plano pode ser concretizado porque existe forte demanda”, diz. Ele lembra que, na primeira consulta do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para seis áreas portuárias, que serão leiloadas em 2016, a secretaria recebeu 35 propostas. “Isso atesta o elevado interesse dos investidores”, comenta.
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